Quem não gosta
de dançar? Dançar é algo muito alegre. O corpo
gira com belos movimentos s, ás vezes não tão
belos dependendo de quem dança. Também cantar é
bom. Cantar acompanhando a música que toca, não é
bom? Não é bom ir ao cinema, ao shopping, ao clube? Não
é bom uma reunião de amigos? E um natal com a família,
não é bom? Não é bom regar o jardim,
plantar uma horta, lavar o carro, andar de bicicleta, ir ao parque,
namorar na praça, estar no aniversário do melhor amigo,
chorar de emoção com o filmes românticos, visitar
uma cidade do interior? Ah, tantas coisas são maravilhosas.
Quem não quer ser feliz? Não é bom o nascimento
do primeiro filho? Não é bom casar, quando você
encontra alguém que acredita que você é a melhor
pessoa do mundo?Não é bom ver o filho também
casado e você ganha o seu primeiro neto? Não é
bom sair com as crianças com bastante dinheiro e comprar
sorvete para todos? Não é bom fazer as malas para
acampar? Não é bom receber um abraço daqueles
que amamos? Não é bom sentar juntinho no frio, todos
reunidos com cobertores e pipoca para assistir a um filme de terror?
Não é bom ver o sol nascer na praia? Não é
bom também ver o sol se por? Não é bom ver o dia
amanhecendo? E na adolescência não é bom pensar
que representamos algo importante ao nos inserimos numa grupinho
social? Todos usando roupas parecidas acreditando que são
mesmo um grupo que representa alguma coisa? E não é bom
escrever no diário? Não é bom cuidar do
cachorrinho? E quando criança não é bom brincar
na terra, fazer castelos de areia, desenhar colorido? Eu era espírita
mas não me conformava em saber que tínhamos que deixar
a terra. Por que não podíamos viver aqui? Por que a
eternidade não podia ser aqui? Eu estava com 98 anos. Minha
alma era só emoção. Ninguém mais sentava
ao meu lado. Ninguém mais conversava comigo. Eu envelheci e
todos pensaram que eu não vivia mais. As pessoas diziam: “
Cuidado com ela. É idosa,coitada! “. E eu era esta coisa
estranha que todos tratavam como uma cristal. Dessa parte de
tratamento eu até gostava porque meu corpo era frágil
mesmo, mas ser um cristal inútil era muito ruim. Eu vivia
parte do dia cochilando e parte acordada e abandonada. Como eu
estava velha, pensavam que eu não sentia mais a falta de um
sorriso, de um abraço, de uma conversa. Qualquer conversa já
me deixaria feliz, já que ninguém queria conversar
mesmo. Eu até lembrava do Túlio, Ele era um rapaz
chato, saliente e intrometido. Ninguém gostava do Túlio.
Anos antes eu rezava para ele não aparecer. Mas, naqueles meus
dias de velhice, eu daria tudo para ter a companhia de qualquer um
como o Túlio, pelo menos teria companhia. Mas, nem mesmo
alguém desse jeito iria querer perder tempo com uma velha. Eu
morava na casa da minha filha Hortência, porque eu fiquei velha
e resolveram vender a minha casa e me levarem para morar com eles.
Minha filha, seu marido e os três filhos, João, Renato e
Vilma. Minha neta Vilma ficou gravida e me deu um bisneto, morávamos
todos na mesma casa. O pai da do Henrique, meu bisneto, não
assumiu o filho. Em casa a minha filha e o marido andavam sempre
corridos. Tinham seus amigos e o trabalho. Saiam de manhã e
voltavam a noite, a atenção que me davam era apenas
perguntarem se estava tudo bem. Eu balançava a cabeça
que sim. Os netos envolvidos com seus interesses, estes nem mesmo
perguntavam se eu estava bem. E naquela solidão, tudo o que eu
fazia era reviver a minha vida guardada na memória, desde a
minha infância. Eu só tinha uma companhia e era a minha
memória. E pensava que se perdesse a memória, então
perderia tudo. Eu sempre freqüentei o centro espirita. E nunca
me conformei em deixar o mundo. Minha vida foi muito boa na terra.
Sofri o que é inevitável como o desencarne dos meus
pais, chorei muito. Meus irmãos também foram
envelhecendo desencarnando, chorei muito por isso. Amigos e parentes
foram desencarnando e eu sofria com isso. Uma vez me pai foi a
falência. Ele tinha uma Oficina de carro, bem no centro da
cidade de São Paulo, era uma das poucas, mas devido á
uma dívida, foi á falência e nós passamos
um pouco de dificuldade, mas foi por pouco tempo. Apenas estas coisas
foram tristes na minha vida, os desencarnes dos que eu amava e a
falência do meu pai, de resto minha vida foi sempre alegre e
boa. E mesmo vendo muita coisa triste no mundo eu não podia
sentir muito porque minha vida era muito linda. Meu namoro, meu
casamento, a festa que me pai fez para meu casamento. Meu marido que
eu tanto amava sorrindo para mim. Tudo lindo, lindo, lindo. Ele me
deixou, apaixonou-se por outra mulher e me deixou, mas foi um ótimo
companheiro enquanto me amou. Ainda gosto de lembrar da minha última
reencarnação, ainda está tudo muito bem vivo
dentro de mim. E a minha velhice foi vivida apenas pelas lembranças.
Vivi até 98 anos. E dos 80 anos em diante, ninguém mais
notava que eu existia e, a partir de então, somente as
lembranças eram a minha vida. Nunca fiquei doente. Nunca
fiquei nervosa, ou porque eu era muito calma ou porque nunca
encontrei motivo.
Então,
chegou a hora do desencarne e eu me vi fora do corpo. Logo eu sabia
que estava desencarnada. Quando se chega aos 98 anos, compreender que
desencarnou é muito mais fácil, pois já se
espera por isso. Então, eu fui levada pelos Espíritos
Bons e descobri o que é vida feliz de verdade. Tudo o que eu
achava lindo e maravilhoso na terra aqui era muito mais.
Aprendi que é
bom ser feliz. Eu fui feliz com tudo o que Deus me deu. Nunca quis
nada além do que tive na Terra. Tive bons pais, bons irmãos,
bons filhos, bons netos, bom bisneto, nada me faltava. Não era
rica, mas podia ter minhas coisas. E nunca quis ter nada que não
tinha.
Os amigos aqui do
lado de cá, disseram que minha vida foi boa porque eu nunca me
desesperei por nada. Sempre fiz tudo o que tinha que fazer porque
tinha que fazer. Sempre acreditei em Deus e gostava de viver. Eles
dizem que se eu tivesse sido alguém muito pobre, mesmo que
passasse fome e dormisse na rua, ainda assim teria a calma e a
confiança em Deus que eu sempre tive.
Essa é
minha vida. Agradeço a todos os amigos que vão ler e a
todos os amigos que me permitiram escrever.
A paz para
todos.
(Espírito
Rosalina)