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quinta-feira, 5 de maio de 2011

ESPÍRITO CALMO


Quem não gosta de dançar? Dançar é algo muito alegre. O corpo gira com belos movimentos s, ás vezes não tão belos dependendo de quem dança. Também cantar é bom. Cantar acompanhando a música que toca, não é bom? Não é bom ir ao cinema, ao shopping, ao clube? Não é bom uma reunião de amigos? E um natal com a família, não é bom? Não é bom regar o jardim, plantar uma horta, lavar o carro, andar de bicicleta, ir ao parque, namorar na praça, estar no aniversário do melhor amigo, chorar de emoção com o filmes românticos, visitar uma cidade do interior? Ah, tantas coisas são maravilhosas. Quem não quer ser feliz? Não é bom o nascimento do primeiro filho? Não é bom casar, quando você encontra alguém que acredita que você é a melhor pessoa do mundo?Não é bom ver o filho também casado e você ganha o seu primeiro neto? Não é bom sair com as crianças com bastante dinheiro e comprar sorvete para todos? Não é bom fazer as malas para acampar? Não é bom receber um abraço daqueles que amamos? Não é bom sentar juntinho no frio, todos reunidos com cobertores e pipoca para assistir a um filme de terror? Não é bom ver o sol nascer na praia? Não é bom também ver o sol se por? Não é bom ver o dia amanhecendo? E na adolescência não é bom pensar que representamos algo importante ao nos inserimos numa grupinho social? Todos usando roupas parecidas acreditando que são mesmo um grupo que representa alguma coisa? E não é bom escrever no diário? Não é bom cuidar do cachorrinho? E quando criança não é bom brincar na terra, fazer castelos de areia, desenhar colorido? Eu era espírita mas não me conformava em saber que tínhamos que deixar a terra. Por que não podíamos viver aqui? Por que a eternidade não podia ser aqui? Eu estava com 98 anos. Minha alma era só emoção. Ninguém mais sentava ao meu lado. Ninguém mais conversava comigo. Eu envelheci e todos pensaram que eu não vivia mais. As pessoas diziam: “ Cuidado com ela. É idosa,coitada! “. E eu era esta coisa estranha que todos tratavam como uma cristal. Dessa parte de tratamento eu até gostava porque meu corpo era frágil mesmo, mas ser um cristal inútil era muito ruim. Eu vivia parte do dia cochilando e parte acordada e abandonada. Como eu estava velha, pensavam que eu não sentia mais a falta de um sorriso, de um abraço, de uma conversa. Qualquer conversa já me deixaria feliz, já que ninguém queria conversar mesmo. Eu até lembrava do Túlio, Ele era um rapaz chato, saliente e intrometido. Ninguém gostava do Túlio. Anos antes eu rezava para ele não aparecer. Mas, naqueles meus dias de velhice, eu daria tudo para ter a companhia de qualquer um como o Túlio, pelo menos teria companhia. Mas, nem mesmo alguém desse jeito iria querer perder tempo com uma velha. Eu morava na casa da minha filha Hortência, porque eu fiquei velha e resolveram vender a minha casa e me levarem para morar com eles. Minha filha, seu marido e os três filhos, João, Renato e Vilma. Minha neta Vilma ficou gravida e me deu um bisneto, morávamos todos na mesma casa. O pai da do Henrique, meu bisneto, não assumiu o filho. Em casa a minha filha e o marido andavam sempre corridos. Tinham seus amigos e o trabalho. Saiam de manhã e voltavam a noite, a atenção que me davam era apenas perguntarem se estava tudo bem. Eu balançava a cabeça que sim. Os netos envolvidos com seus interesses, estes nem mesmo perguntavam se eu estava bem. E naquela solidão, tudo o que eu fazia era reviver a minha vida guardada na memória, desde a minha infância. Eu só tinha uma companhia e era a minha memória. E pensava que se perdesse a memória, então perderia tudo. Eu sempre freqüentei o centro espirita. E nunca me conformei em deixar o mundo. Minha vida foi muito boa na terra. Sofri o que é inevitável como o desencarne dos meus pais, chorei muito. Meus irmãos também foram envelhecendo desencarnando, chorei muito por isso. Amigos e parentes foram desencarnando e eu sofria com isso. Uma vez me pai foi a falência. Ele tinha uma Oficina de carro, bem no centro da cidade de São Paulo, era uma das poucas, mas devido á uma dívida, foi á falência e nós passamos um pouco de dificuldade, mas foi por pouco tempo. Apenas estas coisas foram tristes na minha vida, os desencarnes dos que eu amava e a falência do meu pai, de resto minha vida foi sempre alegre e boa. E mesmo vendo muita coisa triste no mundo eu não podia sentir muito porque minha vida era muito linda. Meu namoro, meu casamento, a festa que me pai fez para meu casamento. Meu marido que eu tanto amava sorrindo para mim. Tudo lindo, lindo, lindo. Ele me deixou, apaixonou-se por outra mulher e me deixou, mas foi um ótimo companheiro enquanto me amou. Ainda gosto de lembrar da minha última reencarnação, ainda está tudo muito bem vivo dentro de mim. E a minha velhice foi vivida apenas pelas lembranças. Vivi até 98 anos. E dos 80 anos em diante, ninguém mais notava que eu existia e, a partir de então, somente as lembranças eram a minha vida. Nunca fiquei doente. Nunca fiquei nervosa, ou porque eu era muito calma ou porque nunca encontrei motivo.

Então, chegou a hora do desencarne e eu me vi fora do corpo. Logo eu sabia que estava desencarnada. Quando se chega aos 98 anos, compreender que desencarnou é muito mais fácil, pois já se espera por isso. Então, eu fui levada pelos Espíritos Bons e descobri o que é vida feliz de verdade. Tudo o que eu achava lindo e maravilhoso na terra aqui era muito mais.

Aprendi que é bom ser feliz. Eu fui feliz com tudo o que Deus me deu. Nunca quis nada além do que tive na Terra. Tive bons pais, bons irmãos, bons filhos, bons netos, bom bisneto, nada me faltava. Não era rica, mas podia ter minhas coisas. E nunca quis ter nada que não tinha.

Os amigos aqui do lado de cá, disseram que minha vida foi boa porque eu nunca me desesperei por nada. Sempre fiz tudo o que tinha que fazer porque tinha que fazer. Sempre acreditei em Deus e gostava de viver. Eles dizem que se eu tivesse sido alguém muito pobre, mesmo que passasse fome e dormisse na rua, ainda assim teria a calma e a confiança em Deus que eu sempre tive.

Essa é minha vida. Agradeço a todos os amigos que vão ler e a todos os amigos que me permitiram escrever.

A paz para todos.


(Espírito Rosalina)

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Sejam todos bem vindos