Era graça, era luz, era alegria. Era festa todo dia. Tínhamos nossos instrumentos feitos com a pele dos animais. Nosso som era a batida. A batida era a nossa música. Todas as aldeias vizinhas tinham a música. Acreditávamos que os sons dos nossos tambores se comunicavam com os deuses, ou nos colocavam em harmonia com os deuses.
Essa concepção de Deus foi o próprio Deus que nos deu. Porque nós amávamos o vento, a chuva, os trovões, os relâmpagos, o sol, o mar, as estrelas da noite, a lua, a mata. Tudo era tão vivo e tão real.
E quando desencarnávamos ainda éramos amantes de toda a terra.
Mas, tudo começou por nós mesmos. Nossos ancestrais eram reis e nós herdávamos o reinado por tempos e tempos. Mas, ser rei nas aldeias Africanas não é o que vocês entendem como rei. Ser rei era amar. Um rei amava o seu povo. Amava tanto que era rei só por causa da hereditariedade, pois que os reis da velha e antiga África andavam com o povo e faziam o que o povo fazia.
E todo rei que desencarnava continuava amando e sendo amado pelo povo da sua aldeia.
E desencarnados eles recebiam o nome de Orixás. Sim, eram os nossos orixás que significava nossa luz, o senhor da luz. Seres que irradiavam amor e proteção. Se um protegia a mata, outro protegia as águas, outro protegia a coragem e força, mas Eles só queriam era proteger o seu povo.
Eram Eles uma só comunhão. E os médiuns podiam sentir a força de cada um e o profundo amor que emanavam em cada manifestação. Os cultos eram lindos. A terra era o nosso céu, pois sabíamos que ao desencarnarmos íamos para a comunhão com os orixás.
Eles nos amavam como éramos. Pelo que éramos fisicamente e não só pelo que éramos espiritualmente, porque entendiam que vivíamos um tempo precioso na terra e queriam nos ver felizes.
Toda graça, toda beleza, toda força, toda fé, toda intensidade dos cinco sentidos, toda pele, todo movimento. Eles amavam nos sentir. Éramos com Eles uma só comunhão.
Mas, a nossa África era ignorada pelos outros povos. Nossas aldeias eram subjugadas. O mundo era moderno. Os nobres já não amavam como os mais antigos, mas ainda eram nossos irmãos. A ciência evoluía, as letras, o intelecto e o capitalismo. Mas, nós não acompanhávamos o mundo, porque éramos felizes.
Então, tomaram-nos de nossas terras, queimaram as nossas aldeias, mataram nossos pretos velhos e nossas pretas velhas. Nem mesmo os nobres escapavam. Lançaram mão dos mais jovens e escravizaram-nos.
Viemos parar nestas terras americanas. Mas, nunca esquecemos os nossos cultos. Chorávamos dia e noite. Éramos surrados e humilhados. Olhávamos para o horizonte procurando encontrar o caminho de volta para nossas aldeias felizes.
Nossos orixás ouviram o nosso choro. Era um choro dolorido e angustiante. E lá do alto, os nossos ancestrais reuniram-se e vieram nos dar forças. Aos poucos fomos- nos fortalecendo, e cultuando nas noites. Noites que mesmo depois de muito trabalho eram um balsamo para nossas almas cansadas no interior sombrio das senzalas. Chamávamos os espíritos dos nossos ancestrais. E eles viam. E nos enchiam de força e esperança.
Este era o nosso Espiritismo. Espiritismo, se quiserem chamar assim. Pois desde o inicio das civilizações os nossos irmãos ao desencarnarem sempre continuaram conosco. Como ainda hoje velam por nós.
Mas, a evolução não pode parar por isso, os espíritos que foram chamados de orixá e, que muito fizeram por seu povo, também caminham para a evolução. Mas, enquanto houver culto, novos espíritos vão se tornando protetores orixás e entendem-se como orixás. Os mais experimentados evoluem para outros mundos e, já não atendem mais ao nome de orixás. Por que são Espíritos e não deuses e todo espírito precisa sempre galgar os degraus do adiantamento para a evolução. E, nesta terra do Continente Americano, neste Brasil, nasceu a Umbanda, o culto sagrado do nosso povo sofrido e discriminado. Porque eu estava entre eles, porque eu estive entre muitos povos. Eu estive entre muitos séculos.
Que Deus abençoe a todos
(Espírito José)