A água batia na
pedra e respingava gotículas prateadas que emitiam raiosinhos
luminosos e tocavam uma musiquinha tilintando suavemente. O que havia
sido a minha veste pendia ao alto preso a uma fenda rochosa. Era a
primeira vez que eu olhava para mim mesmo sem a intrigante desolação
de um espelho. Dois irmãos acompanhavam meus pensamentos, um
de cada lado, calados, calmos e serenos. E eu como uma nuvem leve
numa tarde exitante reconhecia o desencarne como um menino reconhece
o cheiro da pele da mãe. E tal como o menino eu gostava do
aroma suave do que vós chamais de morte. Sempre soube da
imprescindível necessidade do desencarne e, esperava o meu dia
com a lucidez de um cão que sabe a hora de afastar-se do dono.
Amava viver no vosso mundo. Amava respirar o ar, correr, dançar,
sorrir, brincar, amar, encontrar os amigos, beijar a namorada, amava
tomar sorvete, andar na praça. Muita coisa amava. Contudo,
amava também a idéia de voltar para a casa. Diante de
tantas mortes e sofrimentos, logo cedo, ainda adolescente eu
compreendi que a Terra não era a minha casa. A melancolia da
morte me fazia compreender que a Terra não é casa de
ninguém. Porque em casa nossa, a gente entra e fica , em
casa alheia a gente entra e parte. Sempre tive consciência que
a Terra não é casa de ninguém, porque ninguém
entra e fica, todos entram e partem. Para ser casa tem que ser fixa.
Por isso, ao ver aquele corpo que a tanto tempo era o que era eu, já
não era mais o que sou e, eu sabia disso perfeitamente. Só
esperava os irmãos que estavam ao meu lado me dizerem para
onde eu deveria seguir, ou puxarem-me pela mão e levarem-me
dali. Mas, um deles perguntou: “ Você sabe o que aconteceu
com você?” Eu respondi: “ Sim. Eu sei. Eu morri e, vocês
são Anjos que irão me conduzir para o lugar onde os
desencarnados como eu ficam”. Olhei mais uma vez para aquela
armadura que havia me servido de corpo na Terra e vi que haviam muitas
partes estraçalhadas, dilaceradas em sangue e, pedaços
de carne presos ás fendas das pedras. Aquele corpo estava ali,
destroçado e eu não sentia nenhuma dor, apenas uma paz
profunda. Sentia-me muito bem, o que me fez lembrar dos livros
psicografados que eu lia, pois, nestes livros relatavam que sempre
que alguém desencarnava assim sentia muitas dores. Nada eu
sentia de dor. E, logo aqueles Espíritos foram seguindo e eu os
seguindo. Chegamos a um lugar tranqüilo como um bosque de muitas
flores e fiquei por lá na companhia dos Espíritos que
haviam me resgatado, auxiliando os irmãos recém
chegados. Desde quando eu cheguei, nunca me perguntaram nada, nem me
designaram a fazer nada. Somente ficava com os Espíritos que
me conduziram. Com eles eu ficava e com eles aprendia. Por isso, cheguei
aqui porque eles estão aqui. Então, eu sou um
Estagiário, sigo os Espíritos que me salvaram e vou
aprendendo com eles, como estou aprendendo com eles a comungar com
todos vós. Não preciso dizer-vos que deveis confiar
sempre na vida eterna, nem preciso dizer que deveis ter muita fé.
Não preciso dizer amai-vos uns aos outros. Amais a vida com a
alegria e a dignidade de uma criança. Desejo que um dia
todos possam desencarnar tão conscientemente como eu,
aceitando a felicidade do desencarne. Que Deus abençoe a
todos.
( Espirito
Cláudio )
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